Não, os ingleses não se revoltaram contra a monarquia nem estão cercando o palácio de Buckingham com metralhadoras. O reino em perigo é outro: a Jamaica.
O Reino Unido é apenas um dos dezesseis países a manter a rainha Elizabeth II como chefe de Estado, sendo os outros quinze ex-colônias britânicas, da Austrália a São Vicente e Granadinas. Como ela mora no seu reino mais antigo, os poucos poderes da monarquia nos outros quinze países são exercidos por governadores gerais, nomeados pela rainha mas escolhidos pelo Primeiro Ministro local.
E, antes que alguém pergunte, Elizabeth II é II na Jamaica também, mesmo nunca tendo havido uma Elizabeth I por lá - a Jamaica foi tomada pelos ingleses na metade do século 17, quando os piratas do Caribe navegavam pelos mares e Elizabeth I da Inglaterra já existia apenas nas lembranças dos velhos. O sistema de numeração britânico dos monarcas diz que se utiliza o maior número quando houver divergência, ou seja, quase sempre a numeração inglesa é a que conta.
(Exceção: como a Escócia teve monarquia própria antes de ser incorporada ao Reino Unido, para alguns nomes, como James, predominaria a numeração escocesa.)
Nos últimos dias, a Jamaica, um dos dezesseis reinos da casa de Windsor, elegeu uma nova Primeira Ministra, Portia Simpson-Miller, que já de cara anunciou que pretende tornar a Jamaica uma república.
Se a promessa for levada a cabo, o que isso muda? Em termos práticos, provavelmente não muita coisa - com poucos retoques, o sistema de governo jamaicano pode se converter ao republicanismo, sendo preciso apenas pensar em um novo chefe de Estado e em um tribunal que substitua o Conselho Privado, órgão do governo britânico que exerce a função de tribunal de última instância no Reino Unido e diversas ex-colônias, inclusive a Jamaica.
Em termos simbólicos, as coisas são um pouco diferentes. Se os jamaicanos consideram a família real não uma fonte de orgulho nacional, mas um legado do colonialismo a ser superado, a republicanização deve indicar um certo afastamento dos britânicos. Para estes, cada vez mais (auto-)marginalizados na União Europeia e tratados pelos Estados Unidos como aliados mas não como iguais, é uma péssima hora para perder influência em qualquer lugar, especialmente em sua principal ex-colônia caribenha.
É cedo para dizer se vai ser apenas um alarme falso, algo de pouca importância ou se, em retrospecto, esse vai ser um dos muitos sinais do relativo declínio do Ocidente que estamos vendo nos últimos anos. Quem viver, verá.
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