O sociólogo Rudá Ricci aproveita a posse do novo papa e faz alguns comentários relevantes sobre a aparente contradição entre o conservadorismo da maioria da população brasileira e sua mania em se autoidentificar como de esquerda. Resumindo: o brasileiro médio, essa abstração tão conveniente, é socialmente conservador, pouco disposto a deixar cada um cuidar de sua própria vida - é por isso, por exemplo, que as recentes expansões dos direitos civis relacionados a uniões homossexuais e aborto vieram do Judiciário, que não é exatamente um antro de democracia - e economicamente orientado pela lógica do "pobre coitadinho" e "rico malvado", não pela do "produzir riqueza para sair da pobreza". A direita brasileira aparece vinculada ao neoliberalismo econômico, não ao conservadorismo social disseminado entre a maior parte dos políticos e da população, e daí sua impopularidade.
Em outras palavras, o tipo de mentalidade com a qual é difícil sair do atraso. Existe saída desse poço?
Fonte: http://rudaricci.blogspot.com.br/2013/03/a-direita-que-o-brasil-nao-tem.html
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A direita que o Brasil não tem
De fato, se identificar como direita é impopular. Mas, por qual motivo? Historicamente, a ideologia partidária mais à direita tem um viés ultraliberal do ponto de vista econômico. E é aí que se conflita com o pensamento conservador da maioria dos brasileiros. O ideário popular está mais para o perfil do Papa Francisco: muito conservador do ponto de vista do comportamento, muito severo na conduta administrativa da igreja, mas critica duramente a pobreza, a desigualdade e a ostentação. É a segunda parte deste ideário que pega em nosso país. Arriscaria dizer que é a base da formação católica brasileira. O discurso neopentecostal, que amealha progressivamente corações e mentes pode até mudar esta realidade, mas ela ainda é muito poderosa em nosso país. Parte da enrascada dos tucanos está vinculado a este discurso quase yuppie que o afasta da lógica popular (destaco, para não haver confusão, que não considero o PSDB de direita ou ultraconservador).
O ideário ultraconservador brasileiro é, portanto, tortuoso, marcado pela compaixão e pela ordem e pela negação da ampliação dos direitos civis. Não é marcado pela lógica competitiva do mercado, pela eficiência e sucesso. Embora tenhamos sempre a "festa" em mente (aliás, é muito interessante este traço esquizofrênico na base de nossa cultura no livro Entre a Luxúria e o Pudor, de Paulo Sérgio do Carmo) que faz de nossa referência religiosa um permanente sincretismo.
O ponto fraco da tentativa de representação do conservadorismo popular brasileiro está no ideário econômico nos candidatos à liderança política desta ideologia. Um erro intelectual. Aliás, mais um erro que os intelectuais da direita tupiniquim cometem, justamente porque são pós-modernos em demasia.
Olá Emannuel. É muito bom encontrar publicações suas, mesmo que sejam on-line. Isso encurta um pouco nossa distância e como seu entusiasta, já vou aproveitar e tentar tirar o máximo de ti academicamente.
ResponderExcluirNão considera o PSDB conservador nem de direita, ok. Mas acha que faz jus à "social-democracia" na sua plenitude? Seria uma alusão ao socialismo utópico? Na ótica Gramsciana se aproxima muito ao PT? Aguardo ansiosamente seus apontamentos. Abraço, Jerônimo De Boni.