março 20, 2013

82. Uma análise do conservadorismo brasileiro


O sociólogo Rudá Ricci aproveita a posse do novo papa e faz alguns comentários relevantes sobre a aparente contradição entre o conservadorismo da maioria da população brasileira e sua mania em se autoidentificar como de esquerda. Resumindo: o brasileiro médio, essa abstração tão conveniente, é socialmente conservador, pouco disposto a deixar cada um cuidar de sua própria vida - é por isso, por exemplo, que as recentes expansões dos direitos civis relacionados a uniões homossexuais e aborto vieram do Judiciário, que não é exatamente um antro de democracia - e economicamente orientado pela lógica do "pobre coitadinho" e "rico malvado", não pela do "produzir riqueza para sair da pobreza". A direita brasileira aparece vinculada ao neoliberalismo econômico, não ao conservadorismo social disseminado entre a maior parte dos políticos e da população, e daí sua impopularidade.

Em outras palavras, o tipo de mentalidade com a qual é difícil sair do atraso. Existe saída desse poço?


Fonte: http://rudaricci.blogspot.com.br/2013/03/a-direita-que-o-brasil-nao-tem.html
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A direita que o Brasil não tem

Participei, ontem, do Mundo Político, programa de análise da TV ALMG (da Assembléia Legislativa de MG). Em determinado momento, ponderei que o eleitor brasileiro é majoritariamente conservador, na verdade, ultraconservador, no que fui retrucado pela jornalista Vivian Menezes que ponderou que os partidos não gostam de ser identificados como direita. Gostaria de explorar um pouco esta possível contradição.
De fato, se identificar como direita é impopular. Mas, por qual motivo? Historicamente, a ideologia partidária mais à direita tem um viés ultraliberal do ponto de vista econômico. E é aí que se conflita com o pensamento conservador da maioria dos brasileiros. O ideário popular está mais para o perfil do Papa Francisco: muito conservador do ponto de vista do comportamento, muito severo na conduta administrativa da igreja, mas critica duramente a pobreza, a desigualdade e a ostentação. É a segunda parte deste ideário que pega em nosso país. Arriscaria dizer que é a base da formação católica brasileira. O discurso neopentecostal, que amealha progressivamente corações e mentes pode até mudar esta realidade, mas ela ainda é muito poderosa em nosso país. Parte da enrascada dos tucanos está vinculado a este discurso quase yuppie que o afasta da lógica popular (destaco, para não haver confusão, que não considero o PSDB de direita ou ultraconservador).
O ideário ultraconservador brasileiro é, portanto, tortuoso, marcado pela compaixão e pela ordem e pela negação da ampliação dos direitos civis. Não é marcado pela lógica competitiva do mercado, pela eficiência e sucesso. Embora tenhamos sempre a "festa" em mente (aliás, é muito interessante este traço esquizofrênico na base de nossa cultura no livro Entre a Luxúria e o Pudor, de Paulo Sérgio do Carmo) que faz de nossa referência religiosa um permanente sincretismo.
O ponto fraco da tentativa de representação do conservadorismo popular brasileiro está no ideário econômico nos candidatos à liderança política desta ideologia. Um erro intelectual. Aliás, mais um erro que os intelectuais da direita tupiniquim cometem, justamente porque são pós-modernos em demasia.

Um comentário:

  1. Olá Emannuel. É muito bom encontrar publicações suas, mesmo que sejam on-line. Isso encurta um pouco nossa distância e como seu entusiasta, já vou aproveitar e tentar tirar o máximo de ti academicamente.
    Não considera o PSDB conservador nem de direita, ok. Mas acha que faz jus à "social-democracia" na sua plenitude? Seria uma alusão ao socialismo utópico? Na ótica Gramsciana se aproxima muito ao PT? Aguardo ansiosamente seus apontamentos. Abraço, Jerônimo De Boni.

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