Pessoal,
Aqui está a apresentação dada na aula desta semana, como alguns pediram:
https://docs.google.com/open?id=0B3ykTYy6U9PFaFQ3d0dIT0N4UDg
Na próxima aula, teremos um filme sobre a maior dificuldade prática na pesquisa em história: os pontos de vista divergentes, e muitas vezes impossíveis de conciliar, que as fontes apresentam. Depois do filme, vamos fazer uma discussão, que vai ser bem mais proveitosa se lerem antes o texto do Ginzburg sobre o paradigma indiciário (está no xerox). Qual a relação? O Ginzburg mostra como o problema pode ser superado: através da investigação cuidadosa dos pequenos detalhes (os tais indícios, pistas; a propósito, paradigma significa modelo, então paradigma indiciário é só outro jeito de dizer modelo investigativo), como um detetive ou um clínico fariam.
Foi mencionado, durante a aula, o problema de conhecer mais idiomas. É um assunto importante, e quero apresentar alguns argumentos práticos para que aqueles que só leem português se interessem em resolver isso:
- acesso a material: o Brasil, vamos reconhecer, está na periferia da produção de conhecimento. Não está tão mal quanto já esteve, mas temos relativamente poucos (às vezes nenhum) pesquisadores trabalhando com muitos assuntos, períodos e regiões do mundo. Ou seja, a menos que alguma editora tenha lançado uma tradução de livros estrangeiros, o que também não é nada garantido, saber só português é se condenar a não ter acesso a muito da produção histórica;
- finanças: mesmo quando existem livros traduzidos sobre um tema, surge outro problema, o financeiro. O livro no Brasil é tão caro que quase sempre fica mais barato comprar a edição original, importada, que a brasileira. Só para dar um exemplo, vejam o Era dos Extremos, um livro importante do Eric Hobsbawm sobre o século 20. Pela Cultura, a edição brasileira custa 67 reais, e a inglesa 53,40. Importando pela Amazon, a diferença fica ainda maior - por uns 20 dólares é possível comprar o livro e pagar o frete;
- exigência profissional: nem todos vocês pretendem passar a vida dando aula no ensino fundamental e médio, e uma das alternativas é buscar a pós-graduação. Bem, o mestrado exige proficiência de leitura em uma língua estrangeira e o doutorado em duas. A UPF aceita espanhol, mas é uma exceção. E normalmente, ao entrar no mestrado, a tendência é não sobrar tempo e capacidade mental suficientes para aprender uma língua do zero;
- diferencial: saber os idiomas mais comuns (espanhol, inglês, francês) é extremamente útil, mas os mais "exóticos" têm as suas vantagens. A brincadeira sobre aprender russo para estudar o Holodomor tinha um lado sério: quantos historiadores brasileiros vocês acham que sabem russo? Muito poucos. Se souberem russo, ou outra língua incomum por aqui, vocês podem facilmente se tornar os líderes nacionais na pesquisa sobre os países que falem esses idiomas.
Considerem esses argumentos bem egoístas e pragmáticos, e nos vemos na próxima semana.
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