Ao longo do tempo, surgiram muitas respostas à pergunta "por que o Brasil não dá certo?". Mesmo com eventuais avanços e surtos de crescimento econômico, continuamos convivendo com a pobreza, a desigualdade, a injustiça, a corrupção e todas essas maravilhas que vemos ao olhar para fora pela janela.
Então, por que não dá certo? A melhor resposta que encontrei até agora está no livro clássico de Sérgio Buarque de Holanda, Raízes do Brasil. Sinceramente, se você ainda não conhece o livro, estaria fazendo um favor a si mesmo desligando o computador e saindo atrás de uma cópia.
Está aqui ainda? Então vamos tentar sintetizar. Em poucas palavras, a tese do livro é que, pelas características da colonização - regime patriarcal, colonial, escravista - os brasileiros acabaram com uma série de características que dificultam o surgimento de uma verdadeira democracia:
- ética do aventureiro: um traço de muitos dos colonos que vieram para cá voluntariamente. A busca pelo lucro fácil e rápido, e um consequente desprezo pelo trabalho árduo com ganhos a longo prazo;
- cordialidade: nossa mania de tratarmos com todos que encontramos como se fossem amigos. Dizendo de uma forma mais precisa, a cordialidade é nosso traço de sabermos manter apenas relações pessoais, emotivas, sejam elas boas ou más - a inimizade rancorosa também é cordial. Pode parecer algo positivo, esse "calor humano" do brasileiro, mas tem um lado negativo: temos dificuldade em manter relações impessoais, que são a base da democracia. Votamos no candidato, não no seu programa. Os funcionários públicos tratam melhor seus amigos do que os estranhos. Ainda hoje, persiste o velho "você sabe com quem está falando?" que tanto impede a igualdade. Não conseguimos manter debates de ideias sem que surjam ataques pessoais. E por aí vai;
- patrimonialismo: derivado da cordialidade, é a dificuldade em separar o público do privado. Para quem não concebe a ideia de relações impessoais, do tipo cidadão-cidadão ou cidadão-governo, nada mais natural do que tratar o patrimônio público como uma extensão do seu próprio, para ajudar os parentes, amigos e correligionários. Para estes, tudo. Aos demais, sim, a frieza da lei;
- desprezo pela educação: esse é um tema importante de Raízes, mas poucas vezes destacado. Segundo SBH, valorizamos a aparência de saber, aquele verniz de cultura bacharelesco das citações prontas e frases de efeito, mas não damos importância para o conhecimento propriamente dito, uma vez que este é adquirido à custa de muito tempo e esforço (ética do aventureiro...). Ter o diploma e aparentar saber alguma coisa já basta.
Esta, claro, é a versão para crianças. O livro trata mais detalhadamente cada um desses argumentos, e com um toque de otimismo talvez injustificado: afinal, SBH escreveu nos anos 30, e duvido que o leitor não tenha visto aí muito da realidade de 2012. Para ele, a modernização pela qual o Brasil passava desde o fim da escravidão traria consigo o fim desses traços antidemocráticos.
Enfim, tudo isso é apenas uma reflexão que surgiu ao ler esta triste notícia no Estadão. Desprezo pela educação, realmente:
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Em Vila Rica (MT), professor ganha menos que operador de escavadeira
17 de fevereiro de 2012 | 12h51
Hugo Passarelli
Atualizado às 17h21
Um concurso público da Prefeitura de Vila Rica (MT) está gerando polêmica entre usuários do Facebook. No edital da seleção para 169 profissionais em diversas áreas, chama a atenção os salários de operadores de escavadeira hidráulica, máquina de esteiras e monotoniveladora e o de professor: enquanto os primeiros têm uma remuneração de R$ 1.291,98, o segundo tem salário de R$ 1.246,32.
A carga horária é a mesma (40 horas semanais), mas para operador é exigido apenas o Ensino Fundamental Incompleto, enquanto para professor, Ensino Superior. Torneiro mecânico também recebe a remuneração de R$ 1.291,98, mas a qualificação pedida é de Ensino Fundamental Completo. Procurado pelo Mural dos Concursos, o presidente da Comissão de Vila Rica, Hely Fernandes, se limitou a dizer que a definição dos salários respeita o piso nacional estipulado pelos sindicatos das categorias.
Uma reprodução do edital circula pela rede social, seguida da frase “O que dizer? É Brasil”. O post tinha 7 mil compartilhamentos no fim da tarde desta sexta, 17.
No Facebook, o usuário Murillo Guedes Manalischi disse: “Ultrajante, humilhante, ridículo para um profissional formado”. Já Jonas Carvalho protestou: “Essa é a valorização que dão ao professor que ficou 3 ou 4 anos na faculdade”.
No edital, contudo, os professores não são os únicos profissionais com diploma de Ensino Superior com salário abaixo de outros cargos com qualificação inferior. Esse também é o caso de Terapeuta Ocupacional (R$ 916,93 mensais).
O concurso público de Vila Rica tem 169 vagas para todos os níveis de escolaridade divididos entre as áreas de educação, saúde, manutenção e obras, entre outras. As inscrições podem ser feitas até 1º de março, pelo site da Consulplan, organizadora da prova, ou pessoalmente (Av. Perimetral Leste, s/nº, Bairro Bela Vista – Campus da UNEMAT).
Um concurso público da Prefeitura de Vila Rica (MT) está gerando polêmica entre usuários do Facebook. No edital da seleção para 169 profissionais em diversas áreas, chama a atenção os salários de operadores de escavadeira hidráulica, máquina de esteiras e monotoniveladora e o de professor: enquanto os primeiros têm uma remuneração de R$ 1.291,98, o segundo tem salário de R$ 1.246,32.
A carga horária é a mesma (40 horas semanais), mas para operador é exigido apenas o Ensino Fundamental Incompleto, enquanto para professor, Ensino Superior. Torneiro mecânico também recebe a remuneração de R$ 1.291,98, mas a qualificação pedida é de Ensino Fundamental Completo. Procurado pelo Mural dos Concursos, o presidente da Comissão de Vila Rica, Hely Fernandes, se limitou a dizer que a definição dos salários respeita o piso nacional estipulado pelos sindicatos das categorias.
Uma reprodução do edital circula pela rede social, seguida da frase “O que dizer? É Brasil”. O post tinha 7 mil compartilhamentos no fim da tarde desta sexta, 17.
No Facebook, o usuário Murillo Guedes Manalischi disse: “Ultrajante, humilhante, ridículo para um profissional formado”. Já Jonas Carvalho protestou: “Essa é a valorização que dão ao professor que ficou 3 ou 4 anos na faculdade”.
No edital, contudo, os professores não são os únicos profissionais com diploma de Ensino Superior com salário abaixo de outros cargos com qualificação inferior. Esse também é o caso de Terapeuta Ocupacional (R$ 916,93 mensais).
O concurso público de Vila Rica tem 169 vagas para todos os níveis de escolaridade divididos entre as áreas de educação, saúde, manutenção e obras, entre outras. As inscrições podem ser feitas até 1º de março, pelo site da Consulplan, organizadora da prova, ou pessoalmente (Av. Perimetral Leste, s/nº, Bairro Bela Vista – Campus da UNEMAT).
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