(O que não é nenhuma inovação - esse princípio de pesquisa foi expresso já faz algum tempo por Robert Darnton, em um livro fascinante chamado O grande massacre de gatos. Algumas pessoas, discípulos de Fernand Braudel, poderiam dizer que o que realmente importa são as continuidades, aquilo que permanece constante ao longo de muito tempo como o leito do mar, e não os acontecimentos, que não seriam mais que a espuma das ondas. Mas escolhi meu caminho, sem ter pretensões de conhecer o caminho.)
Mas, às vezes, as semelhanças podem ser igualmente surpreendentes. Uma delas ocorre entre o Brasil dos últimos
Todos os empreendimentos dependem das finanças. Daí que toda a atenção deve ser dispensada ao tesouro... Há cerca de quarenta maneiras de desfalque [segue-se uma descrição detalhada destas]. Assim como é impossível não sentir o gosto do mel ou do veneno quando estão na ponta da língua, assim também é impossível que um empregado do governo não usufrua um pouco dos rendimentos reais. Assim como não é possível saber se um peixe que se move na água está dela bebendo ou não, assim também não é possível descobrir se os empregados que trabalham no governo furtam o dinheiro.
É possível observar os movimentos dos pássaros que voam no céu, mas não é possível apurar os movimentos dos empregados do governo com intenções ocultas.
(extraído de Heinrich Zimmer, Filosofias da Índia, p. 100)
Se Kautilya visse o Brasil de hoje, suspeito que só faria uma alteração no texto: aumentar as maneiras de desfalque...